Existem duas vertentes, dentro de uma única possibilidade: um poderoso grupo político arquitetou essa mudança. Mas qual é esse grupo: o de Paulo Hartung, ou o de Lula?
Desde que se anunciou a mudança do candidato ao governo na chapa palaciana, saindo Ricardo Ferraço (PMDB) e entrando Renato Casagrande (PSB), eu busquei ler e ouvir opiniões sobe o porquê dessa decisão. Vi em algum lugar ou outro a sugestão de que a cúpula do governo federal teria influenciado na decisão, mas na maioria dos casos, eu notei que a idéia predominante era mesmo de que Paulo Hartung “desistiu” de Ferraço e simplesmente o colocou de escanteio.
Eu tenho minhas dúvidas quanto a essa versão. Será que o “imperador” Paulo Hartung (como é chamado por muitos críticos) abriria mão da candidatura daquele que ele escolheu quatro anos atrás para ser seu sucessor? Por mais que ele tenha uma boa relação com Casagrande, e quisesse que o socialista se juntasse à chapa palaciana, Hartung optaria por entregar o governo na mão do PSB, e não na de um candidato que era completamente vinculado a ele?
Primeiro um flashback para o “dia do fico” de Hartung, quando o governador anunciou que não sairia candidato ao Senado, e concluiria seu mandato no Palácio Anchieta: isso fez transparecer que PH não se empolgava com a idéia de voltar ao Senado (que hoje tem uma imagem arranhada), que possivelmente poderia se encabeçar em altos cargos do próximo governo federal (seja ele qual for, visto o bom transito do governador), e que ele desejava blindar Ricardo Ferraço (que antes concorreria com o governo nas mãos, portanto muito mais vulnerável a criticas; vale lembrar também que na época do “fico” o caso dos presídios do ES acabara de ser debatido na comissão de direitos humanos da ONU, sujando a imagem do estado).
E quem saiu perdendo com a história do “fico”? O PT de João Coser. Afinal, se Hartung saísse para o Senado, deixando Ferraço no governo, este concorreria à reeleição já em 2010, e o caminho ficaria aberto para Coser em 2014. Com o fico de Hartung, o PT se viu em saia justa, porque Ferraço agora poderia se eleger em 2010 e certamente seria forte nome para reeleição em 2014.
Mas ainda assim, os ânimos foram contidos, e a aliança PT-PMDB permaneceu, talvez até pela preocupação de se montar um bom palanque para Dilma no ES.
Guardem esse momento na memória: Hartung deu uma “pancada” no PT.
Vamos agora voltar um pouco ao cenário nacional e tentar entender melhor as coisas:
Ciro Gomes (PSB) era pré-candidato à presidência da república. Ele e seu partido são da base governista, Ciro é um fã do presidente Lula, mas ainda assim desejava se mostrar como uma alternativa diferente no debate, polarizado entre petistas e tucanos. O problema é que Lula não queria isso...o presidente de 75% de aprovação queria sim uma candidatura única da base aliada, a polarização PT x PSDB, a votação Dilma x Serra como reflexo da comparação Lula x FHC; o PT confia na força do seu maior ícone para eleger sua sucessora.
No entanto, Ciro Gomes não é um candidato qualquer. O PSB também não é um partido qualquer. Os socialistas já tinham sinalizado que a intenção em 2010 era reforçar suas bases, elegendo o maior numero possível de governadores, senadores e deputados federais. Ciro virou moeda de troca nessa história.
E aí que se reforça o meu palpite: a cúpula do governo federal foi a grande responsável pela reviravolta política no ES.
A oficialização da não candidatura de Ciro à presidência (que ocorreu um dia antes da troca de Ferraço por Casagrande) reuniu nomes do PSB, PT e PMDB nacionais. O PSB usou sua barganha para emplacar o nome de Casagrande, e o PT jogou de forma que também saísse beneficiado.
O que a troca no ES acarretaria pra cada um desses partidos?
- Para o PMDB, uma pequena perda: abrir mão de um governador, e ganhar um Senador (o próprio Ferraço);
-Para o PSB, o contrário: Casagrande sairia do Senado para o governo estadual;
- Para o PT, manutenção da vaga de vice-governador, e a herança da vaga de Casagrande no Senado (já que sua primeira suplente é a petista Ana Rita Esgario, que completaria os últimos quatro anos de mandato de Casagrande);
E para os três partidos em conjunto também há um grande beneficio: a associação dos nomes de Casagrande e Ferraço, e a composição também a nível estadual de PT-PMDB-PSB, reforça e muito o palanque de Dilma Rousseff no estado. E vale lembrar que aqui, hoje, a petista perde para José Serra.
Ou seja, agora foi o PT quem deu a “pancada” em Hartung.
Resumo da ópera: acho que o mais provável é que a articulação tenha vindo realmente da cúpula do governo federal, que impôs essa nova condição a Paulo Hartung. Nessa história é possível que, como consolo, o governador tenha saído com a garantia de ocupar um cargo do primeiro escalão do governo federal, no caso de uma vitória de Dilma.
Diante da força quase equivalente dos nomes de Ferraço e Casagrande, e diante dessa enorme articulação nacional para inverter o nome dos dois na chapa palaciana, é provável que Hartung tenha apenas cedido, sem ter muito o que fazer, e sem nem mesmo querer fazer algo em sentido contrário.
Quem mais perdeu nessa história foi Ricardo Ferraço: ele ainda pode se eleger senador (creio que sem muitas dificuldades) se quiser continuar compondo a chapa que outrora encabeçava. Mas resta saber se ele vai querer. Sua imagem saiu arranhada, e Paulo Hartung tem responabilidade nisso: não declarou apoio oficial ao seu pré-candidato, deixando o jogo em aberto e suscetível a reviravoltas como essa; e não fez uso da sua força política para tentar impedir que Ferraço saísse da jogada. Em outras palavras, Hartung lavou suas mãos e aceitou passivamente a desconstrução da linha sucessória que vinha sendo montado nos últimos anos de seu governo.
Mas e agora, Hartung vai tomar partido ou ficará em cima do muro como em tem feito desde que assumiu o governo em 2003? Sua participação direta na eleição pode ser decisiva para o sucesso da chapa palaciana, e isso inclui a vitória de Casagrande, a eleição de Ferraço ao Senado, e um bom desempenho de Dilma no Espírito Santo.
Rodrigo!
ResponderExcluirParabéns pelo post! Faz um panorama geral do processo que está em curso no estado. Neste momento defendo a tese de que PH lança apoio maquiado a Casagrande, seu candidato mesmo é sua cria e aliado de projeto para ES - LP.
Abs
É fera, ficou legal essa resenha tb.
ResponderExcluirO apesar de estar acostumado a comandar o xadrez da política capixaba. Dessa vez, foi o PH quem tomou o xeque mate.
Esse é um dos aspectos negativos de estar em um partido de aluguel.
Estava torcendo muito para Casagrande vir candidato, mas nao gostei nada desse troca-troca e dessa intervençao do governo federal, O foda é nao ter outro nome. Agora nao quero votar nem em Casagrande (acho que tem que mudar de Governo pq PH ja ficou 8 anos) nem em Luis Paulo.
ResponderExcluirNa Bragato não tenho, por enquanto, coragem de votar.
Como me recuso a votar em branco, não sei o que faço de minha vida!
Eu achava que Casagrande poderia vir mesmo sem a benção do PH. Pois bem, ele veio mais agora apadrinhado. Tenho medo de tudo permanecer na mesmice.
ResponderExcluirAhhh maneiro o post!
Interessante o post, mas quero comentar algumas coisas.
ResponderExcluirO Casagrande se viabilizou como candidato. Se ele tivesse apenas 5% das intenções de votos esta reviravolta não teria ocorrido.
E as pesquisas mostram que ele tinha potencial de crescer ainda mais.
Hartung não achava que Ferraço era tão confiável assim, basta ver os acordos que ele estava fazendo com Vidigal e Magno Malta. E isto incomodava bastante o governador.
De um lado está o próprio Casagrande, que apesar de tudo, estava forte e em crescimento. Isto facilita a cúpula federal em forçar o acordo.
Hoje quem mais perdeu era quem achava que estava colocando as cartas na mesa: Vidigal e Malta.
E as pesquisas hoje mostram que Casagrande está muito bem. Mas Ferraço tem razão numa coisa: se Hartung tivesse dado o apoio antes, o cenário hoje talvez fosse outro...
Vendo os comentários aqui, responderia que acho que o Hartung vem com tudo sim na campanha, tanto pro Casagrande, quanto pro Ferraço, e até mesmo pra Dilma.
ResponderExcluirPH se segurou nessa semana pra não responder as declarações de Ferraço, que soaram como a de alguem apunhalado pelas costas. Mas o que se ouve é que, tendo vindo a decisão pela troca do Palacio Anchieta ou do Palacio do Planalto, ela foi bem conversada e articulada, sendo aceita pelo Ferraço. Por isso o nervosismo de Hartung com as declarações do vice.
Acho que o jogo ainda tá muito aberto. Pode vir Magno Malta pra governador, por exemplo.
Mas concordo com o João que quem se perdeu nessa história foi o PR e o PDT. Na verdade o PDT ainda tende a manter uma relação estável com a cupula governista, mas o PR nunca teve essa ligação com a turma do Hartung, pelo contrário. O problema pro PR é que os Max's são aliados do PSDB nessa eleição, e são inimigos do prefeito e presidente regional do partido, Neucimar Fraga.
Acho que o mais viável pra PR/PDT é lançar Magno Malta pro governo, mas poderia ser um belo de um tiro no pé.
As pesquisas de hoje me supreenderam pela grande vantagem do Casagrande, um desempenho relativamente fraco do Luiz Paulo, e tambem da Brice, que eu esperava que tivesse uns 4 ou 5%.
E o Ferraço na frente do Magno Malta pro Senado também foi uma supresa pra mim.
Um fato: a campanha abortada de Ferraço pra governador o deu muita visibilidade e colocou a vaga do Senado nas mãos dele, que antes certamente teria páreo durissimo. Há quem diga que foi uma mega estratégia secreta e proposital de Hartung, o que eu nao acredito.
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